Talento Desperdiçado

A Queda de um Meio-Campista de Elite

Há anos analiso a dinâmica dos meios-campistas na Premier League e na Champions League — o que os faz funcionar, como se desfazem. Nada me chocou mais do que o que aconteceu com Lucas Paquetá.

Um dia considerado o maior promissor do Brasil desde Ronaldinho, ele era suposto ser a engrenagem da reconstrução do West Ham. Em vez disso? Joga fora de posição, sua confiança arrasada, seu valor de mercado reduzido quase a zero. E o clube? Ofereceu apenas £1 milhão em indenização por anos de serviço e desempenho de alto nível.

Sim, leu certo.

Não foi só má tática — foi má gestão.

Um Jogador Perdido pela Má Direção

Paquetá não era só talentoso; era inteligente. Sua visão, alcance de passe e domínio do ritmo o destacavam até entre os melhores. Mas no West Ham foi forçado a papéis que não lhe cabiam — movimentando-se lateralmente em vez de organizar do fundo.

O clube não adaptou seu sistema a ele — esperava que ele se adaptasse ao sistema dele.

Quando ele não conseguiu? Foi rotulado como ‘inconsistente’. Não por falhar — mas porque o sistema falhou nele.

Aqui é onde análise estatística encontra custo humano. Podemos rastrear mapas xG e precisão de passe quantas vezes quisermos — mas quando um jogador perde a crença após dois anos subutilizado enquanto recebe salário médio? Isso não é análise. É negligência.

O Efeito em Cascata no Futebol Brasileiro

Agora vem o pior: o Brasil teve que reestruturar seu meio-campo após o declínio de Paquetá. Movimentaram Éder Militão para trás — sem experiência — e colocaram Rodrigo de Paul em posições mais avançadas, apesar da função natural dele ser mais profunda.

Pior ainda? Tentaram colocar Édison Ceballos (chamado aqui de ‘Cunha’) na função 10 — um jogador feito para apoio defensivo, não criação.

Esse único movimento diz tudo sobre como estão improvisando agora que seu último verdadeiro playmaker está quebrado. Você não substitui gênio por concessões — nem espera sucesso nacional com desespero tático.

O Que Isso Diz Sobre o Futebol Inglês?

Seja claro: isso não é só sobre um clube ou uma transferência barata. É sobre cultura — sobre como valorizamos talento na Inglaterra hoje. Será mesmo que alguém que joga nos principais níveis globais merece apenas £1 milhão após cinco temporadas no topo? Isso não reflete realidade do mercado — reflete indiferença institucional. Quando clubes tratam jogadores elite como contratados temporários em vez de pilares estratégicos… então você obtém resultados assim: mediocridade disfarçada de estratégia, efficiência sistêmica vestida como evolução, uma geração inteira se perguntando se o futebol ainda recompensa excelência ou apenas lealdade por salários mínimos.

Paquetá pode nunca voltar ao ápice — mas esperemos que sua história gere mudança real: sistemas melhores, tomadas mais corajosas, compensação justa para quem carrega times nas horas difíceis — não apenas durante negociações contratuais, mas ao longo das carreiras inteiras. O jogo merece melhor do que migalhas lançadas aos seus maiores cérebros.