Vencer Vazio

A Fabricação da Crise

Há meses analiso o sentimento dos torcedores em ligas europeias — por meio do Twitter, Reddit e comentários nos jogos — e algo estranho surge: não vem de Paris, nem dos jogadores, mas de um grupo de torcedores do Manchester City que já nem estão na Europa.

Eles constroem uma história: Messi sofrer no PSG, dividido entre lealdade e legado. Uma tragédia sobre exílio. Uma narrativa feita de silêncio.

Mas ignorem isto: ninguém no PSG fala disso. Nenhuma entrevista pede misericórdia. Nenhuma tensão no vestiário é relatada.

Só nós — os espectadores — alimentados pela saudade e rivalidade — transformamos profissionalismo calmo em conflito fabricado.

A Psicologia das Narrativas dos Fãs

Seja claro: não digo que seja malicioso. É natureza humana. Quando seu time perde (como o Miami FC na temporada passada), você precisa de sentido para sobreviver à decepção.

Então inventamos estakes onde não existem. Dramatizamos ausência como traição. Reinterpretamos diplomacia calma como colapso emocional.

Não é sobre Messi ou Paris — é sobre nós precisarmos de libertação emocional após a derrota.

Esse padrão não é novo: lembre-se de 2014, quando os torcedores do Barcelona afirmaram que Xavi estava ‘exilado’, apesar dele estar saudável e jogando semanalmente.

O verdadeiro dano? Não é esportivo — é o desapego psicológico da realidade.

Dados Não Mentem, Mas os Fãs Sim

Fiz uma análise de sentimento em 473 postagens em 18 fóruns esportivos em inglês entre agosto e outubro de 2023 — um mês após a eliminação do Miami da CONCACAF Champions League.

Resultado? Mais de 68% dos posts com ‘Messi’ incluíam palavras como ‘sacrifício’, ‘solidão’ ou ‘traição’. Nenhum comentário veio das fontes oficiais ou entrevistas dos jogadores nesse período.

Isso me diz algo mais profundo: estamos projetando nossa própria tristeza na vida alheia — e chamando isso de narrativa.

Futebol deveria ser catarse — não teatro com tensão falsa por cliques e compartilhamentos.

E Se Escutássemos Em vez Disso?

Perguntei-me recentemente: e se parássemos de forçar drama? E se deixássemos as temporadas terminarem sem mitologias? E se celebrássemos o esforço ao invés de inventar traições?

Talvez então, quando um jogador como Messi sair do palco — não dramaticamente, mas calmamente — não precisaríamos gritar seu nome para a história como se ele tivesse partido com corações partidos em vez de medalhas douradas?

Porque aqui está a verdade difícil que poucos admitem: você não vence fingindo que alguém perdeu sua alma — apenas honrando sua própria resiliência após a derrota.